A frase é antiga e ótima para descrever aquelas situações que você não sabe determinar o que é causa e o que é efeito: “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”. Mesmo que você não tenha nascido ou vivido nos anos 1980 e 1990, essa frase publicitária virou ditado popular e não deve parecer estranha para você.

No mundo das empresas, a atuação dos líderes pode ser o céu ou o inferno para liderados e pares. A diferença entre criar um clima de colaboração e confiança ou de competição e medo determina o tom do que pode ir muito bem ou muito mal nas organizações. Lideranças abusivas prejudicam os membros das suas equipes e destroem qualquer possibilidade de um bom clima no ambiente de trabalho.

Um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology mudou o foco de grande parte das pesquisas e, em vez de procurar as causas e consequências da liderança eficaz, procurou a dinâmica que existe nas relações destrutivas. Para isso, foi aplicado um instrumento chamado Destructive Leadership Scale (isso mesmo, essa escala existe!) e a segunda versão do famoso Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ II) entre servidores públicos na Suécia. A ideia era verificar como a liderança destrutiva influenciava o engajamento dos servidores.

Como esperado, os resultados mostraram que a liderança tóxica destrói qualquer possibilidade de comprometimento no ambiente de trabalho ao longo do tempo. Por outro lado, os pesquisadores observaram que a falta de engajamento dos empregados também opera como um elemento que exacerba os comportamentos de liderança destrutiva. Como se fosse um perverso “segredo de Tostines”: a liderança é abusiva, os empregados se desengajam e a liderança fica ainda mais tóxica. Em termos técnicos, esse fenômeno tem uma natureza bidirecional.

As organizações não podem tolerar comportamentos abusivos e devem intervir para eliminar o problema. Uma reflexão pertinente é verificar como estão as relações entre os líderes e seus líderes: como as questões relacionadas à organização do trabalho podem ser a origem dos comportamentos destrutivos. Líderes também são empregados e podem sofrer com a liderança tóxica de quem está acima deles no organograma.

Nada justifica comportamentos tóxicos no trabalho. A vigilância e as intervenções precisam ocorrer em todos os níveis hierárquicos.

Artigo completo: Elgueta JA, Grill M. The bidirectional relationship between destructive leadership and organizational commitment. Front Psychol. 2025 Sep 22;16:1653061. doi: 10.3389/fpsyg.2025.1653061.