A ajuda que pode atrapalhar
Ter suporte social no trabalho é sempre bom, não é mesmo? Um estudo publicado na revista Occupational Health Science sugere que nem sempre seja.
O suporte social consiste no conjunto de recursos e interações entre colegas, supervisores e a própria organização, que auxiliam os empregados a lidar com as demandas do trabalho, a promover o bem-estar e a facilitar o desempenho das tarefas.
Esse suporte pode ser emocional (expressões de empatia, confiança e interesse legítimo), informacional (trocas de conhecimentos, conselhos e orientações), instrumental (ajuda prática ou material para a realização de tarefas) e de avaliação (reconhecimento, feedback construtivo e validação do trabalho). Quando tudo isso funciona bem, o resultado é redução do estresse, aumento da satisfação e motivação, melhora do desempenho e produtividade, além do fortalecimento dos laços de trabalho em equipe e aumento do comprometimento com a organização. O melhor dos mundos, enfim.
O problema surge quando o suporte social no trabalho gera resultados negativos. Algumas vezes, o apoio bem-intencionado pode ser percebido por quem o recebe como ameaçador ou depreciativo, transformando esse apoio em uma fonte de estresse. Os autores basearam o estudo na teoria “Stress-as-Offense-to-Self” (SOS), que descreve como ameaças e reforços à autoimagem podem desencadear estresse no ambiente de trabalho. O estresse não é apenas uma resposta aos eventos negativos externos, mas uma reação a situações que ameaçam ou diminuem nossa percepção de quem somos e de como nos valorizamos. Não é só sobre o que acontece, mas como isso afeta internamente.
Os pesquisadores testaram um instrumento (Bern Dysfunctional Social Support Scale – BDSSS) comparando-a com escalas de atitudes em relação ao trabalho, análises de tarefas e de estressores sociais, traços de personalidade e de apoio social funcional. Os resultados mostraram que, quando o apoio social foi percebido como disfuncional, associou-se a maior irritação relacionada ao trabalho e a queixas somáticas, mesmo após o controle das demais variáveis, como o neuroticismo. Isso significa que não é somente sobre como o apoio é oferecido, mas como ele é interpretado. Não depende só de quem oferece, mas das características, contextos e percepções únicas de quem recebe.
Esses resultados não invalidam o que já sabemos sobre os benefícios do suporte social nas empresas. Mas é um alerta de que, para alguns, mesmo os recursos bem estruturados e bem executados podem desencadear reações negativas. Essas reações devem ser acolhidas e compreendidas. E a comunicação deve ser garantida de forma livre e segura entre colegas, chefias e a organização.
Artigo completo: Semmer NK et al. Dysfunctional Social Support: Delivering Social Support at Work in an Unappreciative Way. Occup Health Sci. 2025;9(2):583-608. doi: 10.1007/s41542-024-00215-w.